JUREMANDO
O asfalto persegue o infinito da reta
Que corta a planície recém-tingida pelo verde das chuvas.
Um velho e cansado pé de angico,
Curvado das secas muitas que viu,
Disputa com o mandacaru uma visão privilegiada
Do carro que passa conduzindo meus sonhos,
Embalados por uma cantiga que me faz pensar
E roçar no céu da boca aquelas palavras ocas
Que já tanto disse e ouvi em vida...
Então me afogo em pensamentos
que se modificam, que se retificam
E que se esticam nos versos do radio
Que me abraça a alma.
E nas entrelinhas em que me definha,
Quase volto a sorrir de novo.
Quase volto a rasgar meu rosto
Num riso torto que eu julgava morto
Como julgaram o cacto baciliforme
Que se planta enorme lá adiante
Desafiando a estrada...
Sabendo tudo...
Descortinando o mundo...
Varando o fundo
Onde água e pedra,
Barro-terra seca- rocha sua sede medram.
E sabendo tudo
E vivendo tudo,
E espiando tudo
E espinhando a estrada
Fica olhando tudo
Sem que diga nada.
Apenas olha, aferrolha altivo
E submete a seu crivo
quem há de viver nesse chão...
É desafiador, é doutor e genitor do sertão...
Mas é a alma da jurema
Tão meiga-valente-forte
Que me embala,
que no silencio do vento me fala
De antigas canções que ouvi...
E como amigas carpideiras
Dos enganos que cometi
Não me são alfineteiras
Das coisas que revivi;
São velhas-jovens meninas
Seguindo com olhares dolentes
O carro que corta a estrada
À procura do dia a dia
Fugindo das arrelias à revelia da vida.
O cordão umbilical de minha nostalgia
Se alonga reta afora
Como um solitário relógio
Extenuado de suas horas...
Um pássaro negro agarra-se nos braços
Da jurema que medita.
Bendita sejas jurema
Por juremar este sertão
Agasalhar no teu regaço,
Não os fartos sargaços,
Mas a sua caatinga
Essas emaranhadas meninas
Que tu fazes brotar do chão....
Luiz Paulo
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