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O CHICO NOSSO DE CADA DIA
( Ao meu
amigo Luiz Paulo a quem devo a mais linda aula de minha vida)
Eu pus a minha mão no rio
E senti em sua água morna
Aquela dor que entorna
De um peito que não é seu.
Eu pus os meus pés no rio
E senti um calafrio
Quando me falou das secas
Quando me falou das cercas
Que guardam o povo seu.
Eu olhei pro fundo do rio
E ouvi suas palavras
Que me falavam das lavras
E de pequenos roçados
E de gente e de terra e gado
Que bebiam o pranto seu.
Fiquei de pé na beira do rio.
E me mostrou a imensidão
Que carrega na solidão
Pelo imenso caminho seu.
Eu me curvei sobre o rio
Para lhe dar acalanto,
Mas eu ouvi no murmurejo
Que por ter nome de santo
É que estende o seu manto
E perdoa as agruras
Que por não ter candura
Lhe açoitam os filhos seus.
Caminhei à beira do rio...
Ele me falou das barrancas,
Das gargantas e das pedras,
Das quedas e corredeiras,
Das mulheres lavadeiras
Que cruzam os caminhos seus.
Falou dos barcos festejantes
Que com pobres navegantes
Dormem lá no fundo seu;
Dos pesqueiros e crianças,
Dos mascates e congadas,
Dos reisados e ajumentados,
Dos turistas e oportunistas,
Dos padres e dos bispos
Que ele já fizera o translado
Levando de lado a lado
Sem receber um obrigado
Por servir extenuado
Tais desejos dos filhos seus.
Deixei meu pranto cair no rio...
E ele com mão dolente
acolheu o pranto meu...
Falou que já se ia
Mas que se morresse um dia
Que eu não chorasse assim...
Quando olhasse pro seu leito
Coberto de mato e lamúrias
Que eu então chorasse os
preceitos
que eu chorasse os malfeitos
do mundo em que não intervim.
E como a tarde caía,
me disse que já lá ia
Cumprindo a sua missão
Como o tal santo fazia:
A de Acolher em seu regaço,
A de Carregar em seus braços
Os filhos de sua abadia.
Um nó me apertou a garganta;
Pus meus dedos em sua manta...
E meu coração chorou na beira do rio.
Jose Antonio dos Santos (Zeca)
Juiz de Fora , 22 de março de 2016
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