16 de mar. de 2012

Texto de Clóvis Campêlo



OS ERROS DO MEU PORTUGUÊS RUIM

Já se disse que a mão que afaga é a mesma que apedreja.
E é a verdade mais verdadeira.
Não pensem, porém, que haja alguma contradição nisso.
É tudo uma questão de crença.
Apenas.
Sorrimos e beijamos quando nos identificamos com o outro e tentamos destruí-lo quando achamos que as suas idéias e ideais podem ameaçar a nossa síntese ideológica, arduamente construída e mantida, sabe lá Deus, com quantas contradições e dissimulações.
Mas, graças ao Todo Poderoso, somos humanos e isso faz parte do contexto dos humanos.
Já pensou como seria chato sermos um poço de coerências e certezas cartesianas?
Eu mesmo não me suportaria!
E muito menos suportaria o outro.
Esse jogo enganatório faz parte do relacionamento humano.
Poetas, ou não, somos fingidores.
Só assim o mundo torna-se suportável.
E brincamos de esconder dos outros as nossas imperfeições do mesmo modo que procuramos descobrir neles os pontos fracos e meter o dedo nas feridas.
Fazer sangrar!
Isso diminui a nossa sensação de impotência e nos torna maiores, gigantes perante nós mesmos.
O sofrimento alheio nos redime, nos faz crescer.
Tudo isso porque somos humanos e filhos de Deus.
Tudo ao mesmo tempo agora!
Realmente, a vida é bela.
Como é belo o sonho, as utopias, as possibilidades do que não se realizou (ainda!).
É isso o que nos alimenta, o que sacia a nossa fome de novidades.
É esse o unguento preferido para as nossas próprias feridas.
É assim, tomando os outros como medida, que nos sentimos nós mesmos, que temos a dimensão da nossa grandeza e da nossa pequenez.
A vida é bela por que é ilusória e transitória.
O tempo é quem nos trai, reduz, elimina.
E quanto a isso não há o que se fazer!

Recife, 2008

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