16 de abr. de 2011

FLIPORTO 2011 - Será em Olinda


texto do curador Antônio Campos

Os diálogos entre o Ocidente e o Oriente remontam à Antiguidade e até mesmo antecedem o momento em que palavras como “Oriente”, “Ocidente” e “diálogos” são inventadas e passam a se tornar correntes nas teorias e nos vocabulários principalmente ocidentais a esse respeito. Quem se volta para o século XIX, por exemplo, tem um rico painel disso tudo.Mas é inegável que no século XXI esses diálogos ganham contextos e contornos tanto mais ricos quanto instigantes, não só em decorrência das profundas modificações geopolíticas e econômicas, mas nos aspectos culturais subjacentes.De qual Oriente e de qual Ocidente se fala no século XXI? Assim mesmo no singular, ou as pluralidades e simultaneidades já superam as uniformidades? E a chamada globalização acentuou ainda mais as particularidades regionais?Por essas e outras, percebe-se facilmente como a palavra “diálogos” nesse caso não pode ser dissociada das “questões” que evoca e provoca. Várias são recentes, muitas recorrentes, e outras tantas permanentes, desde que o mundo é mundo, desde que a humanidade é a humanidade e cuida de construir suas referências, pois, não há como negar também o aspecto de construção mental de ocidentes e orientes, mesmo para quem não tenha lido uma linha sequer de Edward Said.O que pensa e sente o Ocidente a respeito do Oriente pode tornar mais fáceis ou mais difíceis tais diálogos. Mas isso é um caminho de mão dupla. Tem provado a história. Das Cruzadas à Primeira Guerra Mundial. O diálogo, no entanto, estimula algo que suplanta as diferenças, aponta para a convergência e o entendimento.Pensar e agir dialogando e que esses diálogos contribuam para tornar ocidentes e orientes mais próximos - sem imposições, obviamente, de parte a parte - é o que os escritores vêm fazendo ao longo do tempo. Num saudável jogo de influências, sem angústias. O Brasil, potência emergente do Ocidente, cada vez mais dialoga com as suas equivalentes no Oriente, e no Extremo Oriente. E a constante abertura ao diálogo é uma das características mais marcantes do seu povo.A palavra “encontro”, em sua densa ambiguidade, vem mostrando a todos os que interessam pelo diálogo Ocidente/Oriente como o tema vai muito além do chamado conflito de civilizações, que ainda tem sua voga, mas que, crescentemente, tem-se obrigado a conviver com o seu oposto, num mundo que já não pode pregar hegemonias e eixos maniqueístas sem constrangimento.Para além dos livros já clássicos que trataram ora da decadência do Ocidente ora do Oriente, novos estudos de novos autores, no riquíssimo cenário da cultura, da economia e da política na atualidade têm ensejado a pensadores, intelectuais, escritores e a todos os “espíritos livres” novos e fascinantes desafios.O Oriente há muito não pertence ao universo mental europeu. Na era das multilateralidades, os velhos cânones e concepções são suplantados a cada dia, e isto se verifica cada vez, por exemplo, que um estudioso se debruça sobre a descolonização, ou que um escritor a lança no complexo reino da sua imaginação e a discute como algo vivo, pulsante. O poeta árabe Adonis disse que “O Oriente e o Ocidente só existem na geografia. No Ocidente há Orientes mais orientais que no próprio Oriente. Não há diferença entre ambos, salvo geograficamente. O humano é o que me interessa”. É uma das perspectivas possíveis. O que tudo isso tem a ver com romances, contos, poemas e ensaios no Brasil e outras partes no novo cenário que o mundo (se) desenha é o que vai mostrar a Festa Literária Internacional de Pernambuco em 2011.


Fonte: http://blog.fliporto.net/2010/12/06/fliporto-2011-ja-tem-tema/


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