19 de jan. de 2012

Poesia de Neide Germano


AFRICANDESTINAMENTE

Já calei o meu pranto
Nas lambadas que não eram músicas frenéticas
de rodopiar no salão
Mas advindas dos chicotes das mãos
De impiedosos bem-feitores.
Quando fugíamos às sombras
Que seguiam o crepúsculo
Éramos frequentemente captados
Pelos jagunços que nos libambeavam
Até o tronco
Mas o nosso espírito guerreiro, brincalhão e zombeteiro
Não se calou nunca
Da organização da Casa-grande
Ao mafuá da senzala
Nada escapou às nossas mãos calejadas e doridas
Da marcha lenta e pesada do massapé
Surgiu o coco, o jongo, o afoxé
O maracatu, o samba de roda
O lundu, o maxixe, a capoeira, o maculelê...
Ao sabor dos quitutes de Iaiá
E ao som dos tambores, ganzás, reco-recos,
Agogôs, cuícas, caxixis, alfaias
E outros tantos filhos d’Angola
Essa terra banhada pelo Atlântico
Que fica do lado de lá.

Neide Germano

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